A terça-feira (22/6) amanheceu fria e úmida em São Paulo. Acordei cedo, tomei café-da-manhã e fui conhecer uma loja que não cobra nada pelos produtos à mostra dos fregueses. Isso mesmo! Escolhe-se até cinco produtos por visita, registra-se na conta virtual, depois responde-se no site um rápido questionário sobre cada produto adquirido. E todo dia pode-se ir até lá pegar mais produtos (não repetidos). Tem de tudo de marcas famosas ou não: macarrão instantâneo, chá enlatado, cremes, perfumes, salgadinho, comida de cachorro, sorvete, pão, sucos, fita dental, cola… Alguns são lançamentos recentes, outros ainda não estão no mercado; uns testam novos sabores, outros, avaliam novas estratégias para alcançar o consumidor.
Mas afinal, comprar sem pagar é não comprar, né? Por isso, a primeira leva de consumidores – blogueiros e jornalistas, que eu saiba – a estrear entre as gôndolas da loja Sample Central (Rua Augusta 2074, Jardins) foi selecionada pela casa e apresenta algum tipo de padrão de consumo – e de comunicação – que os sócios querem atingir. Quer dizer, quem quer atingir os consumidores é a indústria de bens de consumo e serviços de maneira geral, a Sample Central é na verdade um entreposto que expõe produtos a voluntários filiados que respondem pesquisas, que mais tarde são tabuladas pela Sample Central e enviadas aos clientes que compram espaços nas gôndolas.
Quem quiser participar dessa nova modalidade de pesquisa de consumo pode se cadastrar no site da Sample Central e pagar a anuidade de R$15. Por enquanto só existe uma loja dessas em São Paulo onde já tem cadastrados cerca de 16mil consumidores, mas espera ter 40mil em nove meses. Outras cinco cidades devem inaugurar lojas Sample Central nos próximos anos. Na Ásia e Europa existem outras filiais que seguem a matriz japonesa inaugurada em Tóquio em 2006. A tese é que os consumidores que testam as mercadorias apresentadas na Sample Central tornam-se consumidores efetivos quando o item chega nos supermercados e lojas. Isso é respaldado por pesquisa da própria Sample Central – 76% dos japoneses passaram a comprar produtos que testaram na loja. Todo mundo quer experimentar de graça o que pode comprar (ou não) amanhã no supermercado.
Conversei rapidamente com o inventor da Sample Central, o australiano Anthony James, pouco depois da apresentação dos sócios da loja paulistana, que inclui publicitários renomados, dois fundos de investimentos e o Ibope. Anthony está confiante do sucesso da franquia do seu negócio em São Paulo “porque o consumidor brasileiro é sofisticado e procura informação sobre o que compra”, me disse o boss. Mas é bom lembrar que o Brasil cresce a passos largos, a distribuição da renda está melhorando e o país está rumo ao quinto lugar entre as maiores economias do planeta. A indústria e as empresas de serviço – o Brasil é o primeiro país onde a Sample Central vai disponibilizar teste a serviços – estão ávidas em lançar mais e mais produtos e acharam na ideia da Sample Central uma forma mais eficaz e barata de saber a opinião de quem paga a conta, o consumidor.
Sample Central em foto de celular
Os donos da franquia paulistana dizem que existem muitas empresas esperando para colocar seus produtos nas prateleiras dessa loja-test drive. Eles têm entre 60 e 70 empresas expondo de 3 e 4 produtos na loja. A cada 15 dias trocam todos os produtos. O contato direto com o cliente-consumidor é o que a Sample Central oferece através do conceito “tryvertising” (do inglês, try+advertising). O negócio é chegar no consumidor dando oportunidade para que ele experimente antes – até mesmo antes do lançamento no mercado. Com essa experiência de prova, tem-se mais chances de conquistar um lugarzinho no coração e mente do consumidor. É a tal da fidelização. E a melhor propaganda é o boca-a-boca, a indicação direta de uma pessoa confiável.
Como essa onda da Sample Central se difunde entre as pessoas? É tudo na base do boca-a-boca, sem gastar com publicidade. Do investimento de R$ 4milhões na loja brasileira, não existe parcela para publicidade. O esquema viral – via e-mails, blogs, redes sociais e disse-me-disse – é que vai amealhar mais gente para a loja-pesquisa, assim como aconteceu nas cidades da Ásia onde a Sample Central se instalou e tem 1,6 milhão de afiliados. E é exatamente o que estou fazendo aqui, dando +1teko de razões – sem receber! – pra você entrar nessa onda de comprar sem pagar. Ou não.
* * * * * * * * * *
P.S.1: “Comprei” os seguintes produtos na primeira vez: pão de forma, perfume, fita dental, água mineral e pipoca coberta com chocolate, e ainda provei um sorvete e um telefone de mesa com acesso à internet.
P.S. 2: Leve sempre sua sacola às compras! Não aceite sacolas plásticas!!! A atendente da Sample Central me disse que as sacolas da loja são biodegradáveis, mas não encontrei nenhuma indicação disso. Leve sua sacola reutilizável!!!
Você leu sobre sacolas reutilizáveis aqui.
P.S. 3: O visual da loja é bacana, mas não muito animador, por mais que digam que o projeto é de um arquiteto famoso – Fernando Brandão. Vi imagens de outras lojas Sample Central e achei mais modernos e interessantes. Aqui é apenas um mercado como o da esquina da sua rua. Poderia ter mais cores e uma iluminação especial.