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my essencial clubbing weekend in berlin (2007)

Esse texto foi publicado originalmente na revista DJ Mag brasileira em janeiro 2008, e foi escrito em dezembro de 2007. Estou republicando agora porque o número de acessos a outro texto sobre o club Berghain está com muitos acessos aqui, então aqui vai mais um pouco sobre clubbing em Berlim.

A contracultura da Berlim ocidental, cultuada por David Bowie e Wim Wenders, mudou-se para o leste. Lá onde o comunismo era encoberto pela cortina de ferro política e pelo muro físico que dividiu a capital alemã, instalam-se modelos da cultura globalizada. Galerias de arte, produtoras musicais, bares, cafés, ateliês, estúdios, selos fonográficos, brechós e a imaterialidade da internet; estão todos lá entre os distritos de Mitte, Friedrichshain e Kreuzberg. A parada obrigatória do metrô agora é Alexanderplatz com sua imponente torre de comunicação, e não mais a ocidental Zoologischer Garten (ou apenas Zoo) onde Christiane F se drogava e se prostituía nos anos 1970. Desde que os 47 quilômetros do muro que separavam capitalistas e comunistas desabaram em 1989, a cidade vem experimentando uma reviravolta cultural que culmina nos primeiros anos do novo milênio e que deve durar até o começo dos anos 10 do século 21. Centenas e centenas de artistas – principalmente DJs e produtores – migraram para a cidade, que hoje é conhecida como capital mundial da música eletrônica.

Numa quinta-feira à noite cheguei a Berlim. Zero grau com certeza. Vinha de Bremen com DJ Atum que havia se apresentado em Amsterdã dias antes. Fomos direto para Friedrischshain encontrar Ferri Borbás, produtor e manager do selo digital Autist e nosso anfitrião. Conheci Ferri via Skype, coisas da aldeia global. Poucas horas depois da nossa apresentação presencial já estávamos fervendo no moderno bar Sanatorium, um dos preferidos do povo da região oriental e atual trendy da capital alemã. O primeiro convite nessa essential clubbing trip foi para conferir Anja Schneider no club Weekend no sábado. Seria o início da residência mensal do selo Mobilee, da própria Anja, no Weekend. Antes de dormir recebo mensagem de Holger Zilske, o homem por trás do projeto Smash TV que tocou no Brasil duas vezes. O convite era para ir ao club Watergate conferir a performance de Ellen Allien no dia seguinte. Dormi com os anjos.

Ir a Berlim para ouvir, dançar e entender o techno criado lá não é só ficar na jogação. Na sexta-feira pela manhã já estava na mítica Alexanderplatz, ponto nevrálgico da cidade que fica no antigo lado oriental. Na saída do metrô, ergue-se a fantástica torre de comunicação de mais de 300 metros de altura e com um imenso globo espelhado espetado no centro. Alexanderplatz é uma imensa pista de dança! Daí vale um passeio em direção ao Portão de Brandemburgo, passando antes por uma série de museus, avenidas e palácios até o Tiergarten. A grandeza urbanística equipara-se ao poder econômico-científico-artístico germânico. Entendi ali um pouco mais sobre o povo alemão. O néon com a frase “All art has been contemporary”, que está atualmente na fachada do Altes Museum (Museu Velho), polemiza com o conteúdo da casa, um valioso tesouro de peças egípcias da antiguidade. Novo e velho são um só em Berlim, neon-art e arte egípcia, igrejas góticas e prédios modernos, jovens dançando ao som de minimal techno em antigos redutos comunistas.

Party people – Sexta-feira à noite. Em Friedrischshain começa a agitação atrás das festas mais badaladas. Cada um fala uma coisa, mas o convite já tinha sido feito: Ellen Allien @ Watergate. Dentro do club encontramos Holger Zilske já contando novidades sobre o novo álbum de Ellen, que estão produzindo em parceria e deve sair em abril. Pouca coisa tinha sido feita e Holger já estava participando de outros projetos e (tentando) compor suas próprias tracks. O club Watergate fica na beira do Rio Spree, a pista inferior está na altura da água e uma imensa ponte medieval se ergue bem em frente. No andar de cima, a iluminação movimenta milhares de leds e os ansiosos pela chegada da musa do minimal e dona do selo BPitch Control. Ellen não demorou a aparecer com dois roadies carregando pesados cases, pediu licença ao DJ Daniel Bell (que fez um set correto para aquecer o povo) e começou a esmerilhar pérolas do tão elogiado estilo minimalista do BPitch Control. A DJ se divertia em sua terra natal, homenageada por ela nos álbuns Berlinette e Stadtkind. O que ela tocou? Não sei dizer títulos de músicas ou rótulos de gêneros, mas meu corpo e meu espírito agradeceram por estarmos lá.

A jaca berlinense rola mesmo é de sábado para domingo. O vento frio cortava a noite e a gente ía se aquecendo pelos bares esfumaçados do Mitte até chegar ao Weekend, no topo de um edifício de 15 andares em Alexanderplatz. Era a primeira festa mensal do selo Mobilee no Weekend e a convidada não poderia ser ninguém menos que Anja Schneider, dona do Mobilee e de um sorriso simpaticíssimo. Ela fez um set animado, o povo gritou, a DJ acelerava no minimal indo cada vez mais para o techno sem perder o rebolado e o charme, e inserindo pitadas housy. Noutro dia, Anja me confessaria – “acho que meu som passou de algo housy para um lado mais techno, mas não gosto dessas definições de estilos, afinal é tudo house”. Mas nem todos concordam ou concordariam com ela, como o produtor Paul Brtschitsch que tocou ao vivo, logo depois dela, um techno mais pesado e energético, porém não menos minimalista. Guarde bem esse nome estranho, Paul Brtschitsch. Em Berlim ele é considerado um novo prodígio da eletrônica. Depois de parcerias com André Galluzzi e alguns EPs elogiados, Paul está atualmente compondo com Holger Zilske para um novo live p.a. e produzindo o álbum de Anja Schneider.

Mobilee / Autist – “Não gosto de decidir tudo sozinha. É ótimo que o Paul esteja comigo produzindo meu primeiro álbum”, confessa Anja Scheneider. “Sempre preciso de alguém ao lado quando estou produzindo, primeiro porque não tenho tempo para saber os segredos e truques da parte técnica, e também porque preciso de alguém para dizer se devo continuar ou parar tudo. Preciso de opiniões diferentes para decidir em conjunto”, explica. A grande jogada de Anja nesse empreendimento é o retorno pessoal. “A melhor coisa em trabalhar com jovens talentos é poder vê-los crescer e então receber de volta uma energia fundamental”, filosofa a DJ.

Uma das crias mais queridas do Mobilee é a dupla Pan-Pot que lançou em outubro o álbum “Pan-o-rama”, primeiro álbum da dupla e do selo. Tassilo Ippenberger e Thomas Benedix são muito bem-tratados por Anja na nova sede do Mobilee, no meio do moderno e descolado distrito Mitte. No estúdio, a dupla tem tudo o que precisa para criar climas pesados e dançantes, como para o remix do primeiro single do primeiro álbum da patroa, que tive o privilégio de ouvir em primeira mão. O single deve sair entre janeiro e fevereiro, e o álbum chega ao público em maio. Outros nomes que lançam no Mobilee e no subselo Leena são Jennifer Cardini, Sebo K, Exercise One, GummiHz, Holger Zilske e Marco Ressman.

Enquanto o Mobilee tem sede com estúdio e lança vinis (e alguns CDs e mp3) todos os meses, o selo Autist existe apenas na rede lançando faixas digitais. “Os arquivos digitais são o suporte mais apropriado para o século 21, e no mundo do techno é tudo muito rápido e não dá pra ficar esperando meses pela prensagem de um disco”, argumenta Ferri Borbás, manager do Autist. O selo se sustenta linkado a comunidades virtuais para divulgar os EPs virtuais que são vendidos em vários sites. Colaborações com videoartistas e cineastas também é boa moeda de troca. “Gastasse pouquíssimo e o resultado é garantido”, afirma.

O destaque do Autist é o produtor Boris Brejcha de apenas 22 anos e que vive isolado em uma pequena cidade no sudoeste da Alemanha. Sem contato direto com a eletricidade clubbing de Berlim, Boris cria o seu “freak modern electro techno” em casa e faz dancinhas malucas (procure no MySpace!) para testar se a música é boa para a pista. Em janeiro ele vem ao Brasil para algumas apresentações! Uma boa maneira de fugir do inverno europeu.

A neve – Lá do alto do Weekend a vista é incrível e para meu deleite a neve começou a cair pouco antes de Anja terminar seu set. Estupefato pela neve, pelo drink de vodca com pepino e pelo som, não podia ainda imaginar o que seria o Berghain / Panorama Bar. A neve caía silenciosamente sobre Alexanderplatz quando pegamos um táxi para o Berghain, templo do techno e da loucurama berlinense. Na neve, o povo gritava para entrar enquanto enfrentava uma longa fila às 5h matina. Todos migram para o Berghain nessa hora, quando os outros clubs fecham. Lá dentro a principal regra, estampada bem na entrada, é: “cameras are not allowed”. Melhor assim!

O Berghain e o Panorama Bar ficam em uma velha usina de energia elétrica, em Friedrischshain. Berghain é a pista principal, o techno é o som, Ben Klock é o DJ residente, o pé direito é imenso e em várias darkrooms se faz exatamente tudo em termos de sexo. O Panorama Bar fica na parte superior do prédio e o clima é mais relaxado, em termos musicais é claro. Batidas mais minimalistas e mesmo houseadas movimentam uma turba em constante jogação. Ferveção pouca é bobagem! O mix de estilos e comportamentos é absurdo, parece que todos os grupos sexuais, raciais, musicais, fashionistas estão ali representados. Ecletismo democrático, liberdade desenfreada, hardcore sexmachine, fucking techno.

Naquela noite/manhã os franceses Joakim (dono do selo Tigersushi) e Chateau Flight mais o canadense radicado em Berlim Konrad Black se revezaram na cabine de som do Panorama. Como parar de dançar? Todos corriam entre um techno minimalista e dançante, grooves tímidos e trechos mais experimentais. Uma levada mais house à francesa complementava o ambiente. O Berghain / Panorama é onde o povo que estava em outros clubs se encontra, é onde se comenta das festas, bebe-se pencas e dança-se até domingo à tarde. O Berghain fervia ao meio-dia quando da pista brindamos com Ben Klock suas últimas tracks. Logo estávamos conversando e ele me olhava serenamente enquanto eu confessava que aquele era afinal o club mais incrível do mundo no qual já estive.

P.S.: Só pra lembrar, o bafo é tão forte no Berghain / Panorama que nem o club tem fotos de divulgação. Só mesmo na minha memória…

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niko schwind – ‘the autistic disco’ – autist rec

O primeiro álbum de Niko Schwind é uma viagem pelo underground fervilhante de Berlim. Baixos possantes, vozes e synths bem colocados, minimalismo cheio de groove, pitadinhas de levada house. O estilo refinado do produtor culmina agora com essas 10 faixas que têm tudo para balançar desde Alexanderplatz até as nossas praias (Niko volta ao Brasil em novembro). Os remixes de ANNA (projeto mais techno de Boris Brejcha) e Channel X são bons momentos deste álbum. Niko está em ascenção e recebe atenção de top DJs/produtores, como Oliver Koletzki que está lançando um EP de Niko pelo seu selo Stil vor Talent e Renato Lopes que já o entrevistou na Rádio Smartbiz e o rankeou em seu último chart. A arte da capa é muito boa, melhor ainda enquanto capa da edição limitada em vinil. Fique de olho também no projeto Tarifbereich_B, com Niko e Click Click! Presta atenção!

Se joga: Niko no myspace, selo Autist no myspace, selo Stil vor Talent

Download recomendado: ’Fly’(Channel X remix), ‘The Autistic Disco’, ‘Kazoo’

Como este, ouça: Boris Brejcha, Oblivion, ‘Apollo EP’, Vitor Munhoz, Inminimax Records, Kassette

tunes capa Niko Schwind

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shaun

Esse disco do Cansei de Ser Sexy CSS que saiu agora é realmente muito bom e muito bem produzido. Donkey não tem nada de burro! Faz o download aqui de graça e confira! A turma do CSS tá se jogando em Londres, como alguns amigos que hora e outra mandam sinais de fumaça de Berlim, Bucareste, Londres, Barcelona… Tá todo mundo se divertindo e trabalhando e se jogando e…. Fico pensando na virada que o CSS deu na carreira, mas parece que tudo foi muito natural, bastou ter carisma. E ter talento! Tem de debochar pra conseguir continuar! SUXXXX! Nessa leva vão vários produtores e projetos musicais se misturando (ou mixando) com o mundo todo.

Conversei com o Lars, que me acolheu em sua casa em Berlim no ano passado, e ele me contava que operou o joelho e que vai alugar um novo espaço pro estúdio (foto, vídeo, animação…) que tem com amigos. E ele me convidou pra festa de inauguração daqui 2 meses!!!! Disse que tem uma área externa grande, e é tipo um galpão! E com certeza vai ter festão! ai, ai… E olha o vídeo maluco que ele me mandou…>>> A seguir tem como ver o vídeo do Shaun the Sheep no meu youtube uma só vez, ou…

… ou se jogar nesse link aqui em azul e ficar meditando com Shaun the Sheep…

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Bärlein

Cá estou novamente escrevendo sobre Berlim. Preciso comprar uma passagem na Lufthansa urgente enquanto o dólar tá baixo, né? A matéria sobre a capital alemã como destino de turismo gay sai na próxima Viagem & Turismo, em edição espcial gay. E acabo de descobrir que o nome Berlim vem de Bärlein  que siginifica urso pequeno. E não é que a cidade é cheia de ursos e ursos? ; )

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vai pra berlim?

girlstown_075.jpg Nega arrasando com as alemoas

Em novembro estive com a Nega Nervous em Berlim. Lá ela assina como DJ Black Nervous e já tá a milhão! Pra quem não sabe a Nega trampou na Ellus e depois virou DJéia de lux em festas no Vegas e 8 Bar. Sempre fechando tudo na pista! Daí que a fofolete tá vivendo em Berlim, no descolado bairro de Friedrichshain. Levei um saco de feijão preto e uma garrafa de catuaba pra acalmar os nervos da Nega. Agora ela me conta que o sucesso na primeira gig na festa Girls Town (www.girlstown-berlin.de) foi tanto que ela vai tocar de novo. Leia abaixo nossa conversinha por msn; aproveitamos que aqui em São Paulo e lá em Berlim chove muito pra esse tricô.

rapadura é doce mas nao é mole nao malandragem…. diz: black nervous ta comecando a bombar em berlin. to super amiga do Erick D Clark…vamos fazer um dj set back2back aqui em berlin. to bokkada pra maio de novo…GIRLS TOWN

IVI diz: quem é esse Erick?

rapadura é doce mas nao é mole nao malandragem…. diz: ele é americano, do WHIRPOOL PRODUCTIONS

IVI diz: balck power… onde será essa próxima girls town? 

rapadura é doce mas nao é mole nao malandragem…. diz: no Kino Internacional em maio… a maior festa de bolacha de Berlin..e também toco com o Erick na House of Shame em março… festa da bicha Chatal..que é diva drag daqui de Berlin. achei que ia ser uma dificuldade master entrar no meio desse gente, mas olha, vou te falar que rola. e eu como um NEGRA BELISSIMAAAAAAAAAAAA

IVI diz: luxuóóóóóósa

rapadura é doce mas nao é mole nao malandragem…. diz: e mes que vem nega marisa chega aqui pra Pascoa , nao quero nem ver. só os negas gringas.

  girlstown_01.jpg fila pra ver DJ Black Nervous, em frente ao Kino International, em Berlim

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