“O tempo voa, amor, escorre pelas mãos…” já cantava Lulu Santos. Não bastasse a contagem regressiva pra entrar nos 40, ainda tenho um monte de coisas a serem feitas, muitos textos a serem escritos e um roteiro pra ser finalizado. Então não vou me estender muito aqui nesta página, o melhor é você ler meus últimos petardos sobre música eletrônica no site do clube D-Edge, no The Green Project e na última DJ Mag. Aliás, uma entrevista com o DJ Ben Klock, feita em fevereiro, não entrou na edição atual da revista então a reproduzo logo abaixo.
P.S.: Acabo de saber que a matéria entra amanhã no site da DJ Mag
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DJ Ben Klock em frente ao Vegas
Entrevista com DJ Ben Klock
Cool e simpático, Ben Klock é o tipo de DJ que sua camisa para criar uma trilha sonora única e elevar os espíritos na pista de dança. Ele suou um bocado na primeira visita ao Brasil, em fevereiro, quando apresentou sets muito bem construídos na festa Fase (Rio) e no clube Vegas (São Paulo). É claro que o berlinense residente do emblemático clube Berghain não dispensou uma ida ao sambódromo carioca para ver, ouvir e entender o samba. Acabou comprando o CD das escolas de samba vencedoras do carnaval 2008 – “estou louco para mostrar isso para meus amigos em Berlim. Será que dá pra misturar com techno?” Se dá ou não, ele nos mostrará no seu primeiro álbum prometido para o final do ano. “Gosto de experimentar e sacar quais idéias sonoras devo levar adiante”, conta.
Ben Klock trabalha para o site e-Bay alemão como web designer, mas a paixão pela música o persegue há muito tempo e o tornou um dos principais DJs alemães da atualidade. A primeira residência dele foi no clube Cookie’s entre 1995 e 2005. Foram 10 anos levando multidões de até mil pessoas nas noites de terça e quinta-feira. Ele estava na onda do “techno mais housy” e logo foi na direção do electro. “Do bom electro!”, ressalta o DJ. Ele também teve residências nos clubes Tresor, WMF, 103 e Delicious Doughnuts. Entre sushis, cervejas japonesas (!) e boas gargalhadas, Ben Klock conversou com a DJ Mag em São Paulo.
Texto: Ivi Brasil / Foto: Fábio Tavares
Como você descreveria o clube Berghain, em Berlim, do qual você é residente?
O Berghain é como um templo, até o tamanho dele lembra uma igreja enorme. Eu toco lá há três anos e todo vez que volto após uma viagem tenho aquela sensação “uaaau!”. Sem dúvida é o melhor lugar para tocar em Berlim, mas não é ‘o’ lugar do minimal techno. Se você quer conhecer o techno mais vanguardista é melhor ir aos clubes Watergate e Weekend. No Berghain a música é mais real, de forma geral é o tipo de som que as pessoas gostam de ouvir e dançar. É um lugar para quem entende a história de música eletrônica. Já no Panorama Bar, que fica dentro do Berghain, os DJs tocam house music e eletrônica, mas é algo mais moderno. O Berghain é puro techno! Tem de ir lá para entender a atmosfera daquela velha usina de força.
Como surgiu o selo Klockworks?
Klockworks é um projeto meu para lançar minhas músicas. Eu o inaugurei em 2006 e já lancei dois EPs. No primeiro semestre desse ano lançarei mais um. Não penso em lançar discos de outros artistas pelo Klockworks, mas se eu encontrar algum trabalho muito interessante ou mesmo remixes para minhas faixas posso pensar sobre isso, mas não é prioritário. O nome é uma espécie de trocadilho com meu nome e uma homenagem ao filme “A Clockwork Orange” (“Laranja Mecânica”), de Stanley Kubrick.
Você diz que o Berghain não é um lugar para ouvir minimal, então o que você costuma tocar, lá e em outros clubes?
Sou bem open mind na hora de tocar, não me deixo levar por novidades só por serem fashion. Costumo tocar por até 4 ou 7 horas, daí entro com minimal até a pista ferver, saio do deep e vou para algo mais rápido e pesado. Meus colegas sempre me dão faixas novas. Às vezes curto apenas trechos das músicas, daí edito e corto essas faixas e misturo com outras ou com partes de outras. Vira uma música de ninguém, sabe? Daí esses colegas estão na pista de dança e ouvem acordes das suas faixas, o som parece deles, mas já é uma outra coisa. A faixa “Similarity” que lancei recentemente pelo BPitch Control é na verdade uma espécie de remix de “Similar Colors”, que também saiu pelo selo da Ellen.
Por falar em Ellen Allien, você tem discos pelo BPitch Control e inaugurou o subselo Memo com dois EPs bastante comentados – Earthquake e Back. Como é sua amizade e parceria com Ellen?
Essa é uma longa história… Conheço a Ellen há muito tempo e já por volta dos anos 2000 muita gente se reuniu em torno da música, como Ellen, Sascha Funke, Modeselektor, Paul Kalkbrenner e muitos outros amigos de Berlim. Estávamos na no meio da avalanche electro e fui enjoando daquela onda. Já não sabia onde tocar naquele momento, por volta de 2003, porque o electro havia invadido tudo. Eu não me encaixava em nenhum lugar em Berlim. Um dia, Ellen me disse que o lugar ideal para eu tocar era o Berghain, que tinha uma proposta musical muito boa de techno. Daí fui lá pedir pra tocar, com o aval da Ellen é claro. Foi a primeira e uma das únicas vezes que pedi para tocar em um clube. Na noite da primeira apresentação eu disse para mim mesmo: vou fazer o melhor set da minha vida hoje no Berghain. E a noite foi incrível e me chamaram pra residência semanal! Então a Ellen é uma espécie de madrinha dessa minha residência no lugar mais louco de Berlim.
(Ivi Brasil)