A chuva chegou forte e persistente ao litoral catarinense, mas minhas perspectivas de curtir Michael Mayer no primeiro dia de 2010 (próxima sexta-feira) continuam firmes. Anteontem encontrei o DJ e produtor alemão via e-mail, ele me disse que está na praia de Toque-Toque, na cidade paulista de São Sebastião, e não vê a hora de tocar no club catarinense Warung, na Praia Brava em Itajaí.
Há quatro anos, Mayer foi o primeiro grande DJ a se apresentar no D-Edge no começo do ano, mais precisamente em 07/01/06. Como trabalhava no club paulistano foi fácil conversar com ele depois do ótimo set de cerca de três horas. Simpático desde o primeiro momento, Mayer estava sorridente e falava calmamente com todos, e olha que era – e é – o bem-sucedido empresário da música eletrônica sócio da famosa gravadora Kompakt, com sede em Colônia (Alemanha). Alguns meses antes dessa primeira e até este momento única turnê pelo Brasil, Mayer conheceu os novos sons que o brasileiro Gui Boratto começava a fazer. Fugindo da eletrônica comercial, Gui conseguiu lançar (em outubro de 2005) o famoso EP ‘Arquipélago’ pelo subselo K2 da Kompakt. As duas faixas do vinil – ‘Arquipélago’ e ‘Simetria’ – em estilo minimal techno deram uma guinada na carreira e na vida do então produtor de jingles e do projeto dance Crossover (com seu irmão Tchorta Boratto e Alissa K). Depois de Gui, a Kompakt lançou trabalhos dos brazucas Dada Attack e Dubshape
Mas vamos à entrevista exclusiva que Michael Mayer me concedeu de ontem pra hoje. Nada melhor do que terminar o ano com uma entrevista com um dos mais aclamdos produtores de techno do mundo, né? Aqui ele conta porque nunca mais voltou ao Brasil, expectativas sobre a gig no Warung (1/1), os planos para 2010, as impressões sobre o Brasil e o que anda fazendo por aqui. E como Mayer me desejou: guten Rutsch!
+1teko – Michael, você está esticando o verão? Depois das festas e festivais no verão europeu você está de volta ao Brasil. Há quanto tempo não vem ao Brasil?
MM – Isso é inacreditável, mas é verdade, não vinha ao Brasil faz 5 anos. Isso aconteceu devido ao nascimento de meu filho Paul, há 2 anos e meio, principalmente. Viajo tanto – quase que a cada fim de semana – então tentava manter as viagens mais longas a um mínimo. Mas agora Paul já pode pegar voos longos e eu estou feliz em mostrar os prazeres de estar no Brasil pela primeira vez pra ele. E ele já está amando!
+1teko – A vibe do verão brasileiro é como a do europeu? Ou tem diferença?
MM – Há semelhanças: Havaianas, biquínis e todas essas coisas, mas o clima é realmente diferente. Na Alemanha quase nunca fica mais quente que 30 graus e não é tão úmido. Essa é a razão pela qual as pessoas não relaxam como se faz em regiões ao sul. Às vezes eu perco esse sentimento em casa. A Alemanha nunca entendeu o conceito de “siesta”… Que vergonha!
+1teko – Você vem tocar no club Warung no primeiro dia de 2010, tem mais apresentações no Brasil e na América do Sul em janeiro? Onde? Quando? É sua primeira vez no Warung?
MM – Será minha primeira apresentação no Warung, então estou muito entusiasmado. Ouvi coisas maravilhosas sobre este lugar. Além disso, tocarei em Santiago do Chile [no club Feria] e no D-Edge, em Sao Paulo. Tive um fim de ano muito exaustivo então estou feliz em ficar focado em aproveitar as belas praias daqui e observar beija-flores.
+1teko – Pretende ver/achar algum novo e brilhante produtor brasileiro como Gui Boratto e Saulo (Dada Attack) para lançar pelo Kompakt? Quem?
MM – Antes de mais nada, quero encontrar Gui e Dada Attack outra vez, também espero que os caras do Dubshape [João Lee e Alê Reis] estejam por aqui porque nós nunca nos encontramos pessoalmente. Não estou aqui numa caçada de novos talentos, mas certamente manterei as minhas orelhas e olhos abertos para novos artistas.
+1teko – O que te inspira nesses dias quentes?
MM – Sou muito fácil de agradar… Passear com a família, natação, churrasco, ler o novo livro de Rainald Goetz, um de meus autores alemães favoritos, e tentar compor alguma nova música. Isso é todo que eu preciso.
+1teko – Além da música que você deve conhecer, o que você acha do way of life brasileiro?
MM – Estou surpreso com a mistura cultural neste país. Aqui em Toque-Toque [praia do município de São Sebastião, SP] estou cercado por pessoas bem sucedidas de São Paulo, principalmente. Eles levam a vida numa boa… A primeira cerveja é às 10 da manhã! Isso é o que eu chamo dedicação.
+1teko – Planos para 2010?
MM – Despois de um ano extremamente ocupado, com muito trabalho de escritório, estou procurando focar em meu lado criativo em 2010. Tentarei gastar o tempo possível no estúdio para trabalhar em meu retorno solo. Também planejo lançar meu terceiro CD mix ‘Immer 3’ pela Kompakt antes de verão [europeu, que inicia em junho]. 2010 está começando com grandes lançamentos de álbuns de Ewan Pearson, Superpitcher e Thomas Fehlmann. Então o futuro não sera nada chato! E tenha uma ‘guten Rutsch’ (algo como ‘boa virada’), como dizemos em alemão. Te vejo na nova década!
EM TEMPO
1- O site Rraurl tem uma ótima entrevista dada por Mayer no final de 2005, pouco antes de vir ao Brasil pela primeira vez. Se joga clicando aqui.
2- O escritor alemão Rainald Goetz, admirado por Michael Mayer, é um entusiástico observador da mídia e da cultura pop. Ele curte filósofos vanguardistas como Foucault e Luhmann bem como DJs de techno, especialmente Sven Väth. O livro mais famoso de Goetz é “Irre” (louco), publicado em 1983. Em 1998 ele lançou os livros “Rave” (livro de contos e peça teatral) e “Jeff Koons” (estranha – dizem – peça de teatro sobre o artista hiperrealista que se consagrou com esculturas em que aparece transando com a atriz pornô Cicciolina). Hoje, Goetz é um autor cult para os intelectuais de esquerda. Segundo a Wikipedia, provavelmente Goetz foi um dos primeiros blogueiros, tendo escrito um diário entre 98 e 99 chamado Abfall für alle (algo como ‘lixo para todos’), e que virou livro mais tarde. Não encontrei nada do autor em portugês, uma pena…