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rewind – vídeo no brasil

Enquanto ouço o delicioso e ainda não lançado primeiro álbum da banda Stop Play Moon, releio alguns trechos dos livros “Made in Brasil – Três Décadas do Vídeo Brasileiro” (org. Arlindo Machado, Itaú Cultural, 2003) e “O Que é Vídeo” (Candido J.M. de Almeida, Col. Primeiros Passos, Nova Cultural/Brasiliense, 1985). É que na quinta-feira 25/2 estive num debate/palestra sobre o vídeo nos anos 80 com participação de Tadeu Jungle e Walter Silveira – da TV Tudo – e Marcelo Tas e Marcelo Machado – da Olhar Eletrônico. O evento faz parte da mostra Brasil Anos 80 – Cinema e Vídeo que está acontecendo no CCBB de São Paulo. É interessante ver hoje como o videomaker de 30 anos atrás (des)evoluiu para fazedores de vídeos caseiros. A experiência com o novo meio de nova narrativa, filho do cinema e da tv e de outros meios e artes como poesia visual e videoarte, chega hoje aos difusores “democráticos” de informação na internet, como Vimeo, Youtube, Facebook, Twitter etc.

Os 4 protagonistas – (ex-)videomakers naquela década de 80 – do debate no CCBB apresentaram-se e os seus projetos daqueles tempos passados. Aliás, está tudo muito bem documentado no livro “Made in Brasil” em textos dos próprios Tadeu Jungle e Marcelo Tas. O grupo da Olhar Eletrônico (Tas, Machado e outros) tinha como lema “revolucionar a TV do Terceiro Milênio”. Tas, por exemplo, revoluciona atualmente com o programa CQC, na Band, mas já radicalizou com os amigos no emblemático programa Crig-Rá que passou na TV Gazeta em 1984. Marcelo Tas fala mais sobre o Crig-Rá nesse trecho do livro “Made in Brasil”:

Tas, agachado, e Meirelles, segundo da direita para a esquerda, na produtora 'Olhar Eletrônico'

“O auge da experiência de criar e fazer televisão coletivamente na Olhar Eletrônico se deu com o Crig-Rá. Em 1984, a convite da Abril-Video inventamos esse programa semanal dedicado ao público jovem. Virou um espaço de experimentação de formatos variados. Marcelo Machado, o nosso homem ligado à música e artes plásticas, articulou a produção dos primeiros video clipes de bandas de rock que brotavam que nem cogumelo depois da chuva naqueles barulhentos anos 80. Sem concorrentes nas outras TVs, o Crig-Rá virou um hit da molecada. Aprendemos a ter controle de uma hora inteira na televisão. O programa começou a ser transmitido numa rede independente para várias capitais do Brasil. Chegamos a ser o programa escolhido para lançar oficialmente o U-2 no Brasil. “ [Foi nesse programa que vi U2 pela primeira vez no videoclipe de “Gloria”, tocada ao vivo num palco com grande tochas nas laterais ]

Em outro ponto da USP, ainda falando do começo dos anos 80, o grupo da TVDO (TV Tudo) com Walter Silveira e Tadeu Jungle incluídos pirava em cima da redemocratização do país, da videoarte, da poesia concreta e no vale-tudo da TV via vídeo. Logo a TVDO estreou na Band a convite de Nélson Motta com o programa Mocidade Independente. Na palestra no CCBB, Marcelo Tas confessou sua admiração ao ver o programa na TV e se perguntou: “dá pra fazer isso na televisão?” A porra-louquice visual antropofágica.

Tadeu Jungle

Interrogados sobre a quebra de paradigmas e a criatividade na atualidade, todos os quatro convidados concordam que a internet é a nova revolução, ou um passo adiante do que significou a possibilidade de qualquer um criar e comunicar rapidamente com uma câmera de vídeo e uma ilha de edição. Nos anos 80 era difícil ter uma câmera de vídeo e uma ilha e também eram raros os lugares onde se podia assistir a esses vídeos; hoje temos celulares-câmeras e câmeras full-HD e webcams e tv no celular e internet em qualquer lugar, que ajudadas por ferramentas como Youtube, Vimeo e UStream, por exemplo, possibilitam colocar esse material em broadcasting para o planeta. MacLuhan, aldeia global, Warhol, 15 minutos de fama, Chacrinha, quem não se comunica se trumbica.

No fim do debate, Tas disse: “O conteúdo do Youtube é mais importante”. Para Jungle “as estrelas são as pessoas que criam ferramentas como Twitter e Google; o meio revoluciona mais que a mensagem”. E Walter Silveira finaliza dizendo que hoje se tem acesso a tudo [ou quase tudo] então “você monta a sua rede e os seus roteiros”. Você escolhe como, quando, onde e para quem quer aparecer no novo mundo.

A mostra Brasil Anos 80 vai até 7 de março no CCBB de São Paulo e tem programação bacana e rara, que dá pra consultar aqui. Entre as várias sessões que rolam durante a tarde até de noitinha encontram-se pérolas como os filmes “Beth Balanço”, “”Ilha das Flores”, “Feliz Ano Velho”, “Cidade Oculta” e “Nunca Fomos tão Felizes”, e programas de TV como Crig-Rá, TV Mix e Mocidade Independente. Entrada gratuita em todas as sessões!!!

Os próximos debates e palestras acontecem na quarta-feira 3/3 às 19h30 com “30 Anos de Videocriaturas”, com Otávio Donasci comentando sua trajetória na videoarte. Na quinta-feira 4/3, às 19h30, tem a mesa redonda “Novo cinema paulista dos anos 80” com André Klotzel, Anna Muylaert, José Roberto Eliezer e Walter Rogerio.

Olha aqui abaixo umas videoinstalações de Nam June Paik, que eu adoro!

Leia mais sobre Stop Play Moon no +1teko clicando aqui, ali e acolá.

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